sexta-feira, 10 de agosto de 2012

A verdadeira arte

        Durante esta semana, tive a oportunidade de assistir o documentário brasileiro Lixo Extraordinário, que concorreu ao Oscar 2011. O longa-metragem mostra como transcorreu o projeto de um artista plástico brasileiro, Vik Muniz, que com a arte conseguiu transformar a vida de uma série de catadores de materiais recicláveis, no aterro sanitário Jardim Gramacho, Rio de Janeiro. Vik mostrou aos catadores que trabalhar em meio ao lixo não significa vergonha a nenhum deles. Usando o material que os catadores mesmo encontravam, o artista plástico que atualmente reside em Nova York, nos Estados Unidos, chamou um grupo de trabalhadores do aterro e os ensinou a fazer arte.
       Enquanto assistia ao documentário, comecei a me deparar com discrepâncias extremamente grandes entre o que a mídia, especificamente as novelas (e atualmente a novela global Avenida Brasil) vem mostrando sobre a realidade dos catadores. A televisão e os meios de comunicação em geral, principalmente as novelas, nos trazem à tona um estereótipo de quem é, de como é e de como se comporta um catador de materiais recicláveis. Dão a impressão de que são extremamente infelizes, desanimados, mal educados e agressivos. Este estereótipo está totalmente ultrapassado por que apesar da vida e do trabalho dessas pessoas serem duros, eles encontram a felicidade em cada detalhe da vida e a oportunidade em cada livro encontrado no lixo. O estereótipo feito pelas novelas, na verdade, se encaixa perfeitamente aos empresários egoístas e trapaceiros e aos representantes governamentais egocêntricos e corruptos que roubam os direitos dos cidadãos e aprovam leis em tempo recorde para beneficiamento próprio. Direta ou indiretamente, esses sim, os corruptos, foram quem colocaram essas pessoas naquele lugar.
        Eu que tinha repugna em colocar as mãos no lixo de minha própria casa, me deparei com pessoas que só sobrevivem ao sistema capitalista, se colocarem as suas mãos no lixo de milhares, se não milhões, de pessoas desconhecidas à procura de oportunidades naquilo que não serve aos demais. Descobri que os catadores tem mais cultura que a maioria da população brasileira. Nos livros em que muitos veem como lixo, eles encontram a oportunidade. Marat, Machiavelli, Nietzsche, são a bibliografia dos catadores. As obras que produziram foram todas ideias dos própiros catadores apartir de leituras que eles mesmos fizeram ao longo da vida no lixão. Ficaste impressionado? Eles não têm dinheiro, nem saneamento básico, nem oportunidades, mas eles têm cultura e muita vontade de crescer. Crescer honestamente. E o que Vik Muniz fez? Deu-lhes de volta a auto-estima, a dignidade e a oportunidade de conhecer o mundo além do lixão. E bastou apenas uma chance para que eles a agarrassem com todas as forças que possuíam. E conseguiram! Saíram do Jardim Gramacho e encontraram oportunidades de uma vida mais digna.
       Escrevo este texto com duas intenções: a primeira delas é mostrar a minha emoção diante de um trabalho tão bonito e revitalizador, que não teve fins lucrativos pessoais para o artista, mas sim para toda a comunidade e à cooperativa do Jardim Gramacho. A segunda é recomendar-lhes que assistam este documentário que, além de encher os olhos com uma arte que mistura duas coisas quase opostas: o lixo e a arte, toca também no sentimento humano de cada um. Recomendo.

Um comentário:

  1. Documentário realmente interessante.
    A pouco tempo atras me deparei com um filme em que era mostrado a vida de um pai e um filho, onde ambos viviam em uma casa humilde dentro do lixão, o pai trabalhava duro e conseguia o que necessitava no lixo, local onde todos imaginamos que apenas existam restos orgânicos e objetos sem reparo. Durante o filme é mostrado diversos objetos como sofás, ventiladores, e alguns outros materiais, todos em boas condições. No exemplo do ventilador o pai apenas abre o ventilador e vê que o fio não estava conectado, que por alguma razão havia quebrado, sendo possível o reparo.
    A humanidade está indo na direção errada, onde não resolvem reparar o que está quebrado, mas sim jogar no lixo e comprar um novo.
    Enfim, muito bom post =]

    ResponderExcluir