Antes de começar a
escrever este texto, tenho ciente de que irei contra os pensamentos
de pelo menos todos os amantes de futebol. Não tenho e nem nunca
tive nada contra o futebol, apenas algumas lembranças trágicas, que
não interferiram na construção deste pensamento. Aos fanáticos
por futebol: que fique claro que não desaprecio e muito menos
deprecio o esporte, mas sim alguns fatos que se relacionam a ele.
Faço aqui algumas comparações e tomo o futebol como exemplo, pelo
fato de fazer totalmente sentido o meu pensamento, que também é
compartilhado por alguns amigos e colegas acadêmicos.
Ontem fui à uma
palestra que tinha como tema o jornalismo esportivo televisivo. A
palestrante convidada era uma jornalista do Grupo RBS, que prendeu a
atenção de um auditório com os alunos agitados da Comunicação
Social durante quase três muito proveitosas horas. Durante o tempo
em que ficamos lá, Débora de Oliveira tirou as dúvidas dos
acadêmicos, que são de certa forma inexperientes e iniciantes na
vida jornalística e ainda contou algumas de suas tantas histórias
da carreira como jornalista. Algumas engraçadas, outras trágicas,
mas o que ficou mesmo foram alguns momentos de reflexão e incentivo
que ela, nas entrelinhas, deixou aos alunos.
Após conviver durante
um bom tempo com algumas pessoas fanáticas, viciadas e por que não
loucas por futebol, comecei a refletir sobre algumas coisas que a
jornalista nos disse nas entrelinhas de suas falas. Muitas pessoas
que gostam de futebol usam boa parte dos seus tempos livres
pesquisando e tentando se manterem informadas sobre o que andou
acontecendo no mundo do futebol enquanto estavam trabalhando ou
escovando os dentes. Elas esquecem que apesar disso ser um hobby,
tem lá os seus limites. Às vezes o sujeito não sabe nem o que se
passa dentro da própria casa, não sabe que o irmão está
apaixonado e que o pai está preocupado por não vencer pagar todas
as contas, mas o que está acontecendo com os times do mundo afora ,
ele sabe. A pessoa sabe quem foi escalado para o próximo jogo, qual
foi a lesão do jogador fulano de tal, sabe quanto ele ganha por mês,
mas nem lembra do valor exato do próprio salário. Fica especulando
em como o clube gastará o dinheiro em infraestrutura e não faz
ideia de como administrar o próprio dinheiro.
Analiso a cada dia que
passa o apego que as pessoas tem pelo futebol e ainda não consegui
chegar a uma conclusão exata. Acredito que este esporte faça as
pessoas esquecerem dos próprios problemas. Elas ficam o tempo todo
querendo estar informadas sobre alguma coisa que não move sequer uma
palha em suas vidas. Não quero aqui generalizar os pensamentos sobre
todas as pessoas, mas é assim que eu vejo. Vejo que o futebol passou
de esporte para status social há muito tempo. E as pessoas ficam
assistindo o glamour dos gramados e esquecem que a vida real não
pertence àquilo. Vejo nas manchetes que o Neymar receberá R$1,5
milhão de salário e pode dobrar tal valor em patrocínios. Se ele
ganha em média R$3 milhões de reais, isso significa o sustento de
mais ou menos 4826 famílias que sobrevivem com um salário mínimo.
Fiz aqui uma conta rápida e sem aprofundamento, já que muitas
famílias vivem com bem menos que um salário mínimo.
Eu me convenço cada
vez mais que o futebol brasileiro não deve servir como parâmetro de
comparações ou como ponto de referência, já que neste país não
existe a conciliação entre o estudo e o esporte. A Europa tem um
futebol de maior nível por exigir o estudo de seus jogadores,
inclusive dos brasileiros que vão pra lá. O Brasil se declara como
o país do futebol mas não sabe como investir neste esporte. Não
sabe que investir em estádios que após a copa serão inutilizados é
perda de tempo. Se a nossa pátria amada investisse na infraestrutura
das escolas, teria um resultado mais positivo nos esportes a médio e
longo prazo. Somos um país de afobados e não queremos deixar nada
para depois. E é por isso que a gente dá dois passos pra frente e
três para trás. Será que existe alguma relação entre o baixo
número de medalhas nas olimpíadas de Londres com o péssimo
desempenho do nosso país em educação? Média TRÊS é muito, muito
pouco. Não se exige medalha de quem não recebe ajuda do governo.
Quando a palestra
estava quase se encerrando a jornalista Débora disse as seguintes
frases: “ Quem é famosa é a emissora, o canal de televisão, não
o jornalista. Se ele resolver largar o seu emprego na mídia, na
outra semana todos esquecem que ele existe”. Isso acontece com o
Brasil. Agora que a próxima Copa do Mundo estará em nossas mãos, o
mundo todo lembrará de nossa existência e influência, mas se as
coisas não melhorarem, assim que a Copa e a Olimpíadas terminarem,
todos esquecerão deste país tropical. E se a nossa economia e a
nossa educação continuarem decrescendo, o futebol também irá por
água abaixo. Vivemos em um sistema. Se uma peça do dominó cair, o
resto todo é atingido. Então cabe aos cidadãos acordarem e aos
fanáticos saírem do transe e empurrarem para fora do nosso sistema
as primeiras peças do dominó: os políticos corrompidos.
Muito bom post, como de costume, concordo com seu ponto de vista.
ResponderExcluirJá presenciei uma pessoa, fanática pelo seu time de futebol, perseguir, com um peso de academia, um amigo pois ele descordava de quem deveria jogar na próxima partida.
Hoje ainda, me deparei com um amigo pedindo o nome do jogador que o Internacional comprou, como se fosse uma informação indispensável, algo que eu deveria saber desde o primeiro segundo do anúncio de compra do tal jogador.
Não apenas tu, mas eu também fico indignado com o modo que a população brasileira trata o futebol. O famoso pão e circo está aí, e o povo faz exatamente como não deveria, desfrutam de tais coisas fúteis e ignoram a corrupção e injustiças que ocorrem frequentemente na vida de muitos brasileiros.
Parabéns pelo blog, continue assim =]
Olá! Obrigada! Eu também concordo com essa "lei" do pão e circo que existe desde a o império de Otávio na Roma Antiga. Parece que o Brasil involuiu até a época onde se oferecia comida e diversão aos caponeses (hoje a população quase que por completo) para que não se rebelassem contra o império (ou ministério nos dias de hoje ou, ainda, república)
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