sexta-feira, 31 de agosto de 2012

A felicidade versus a santidade


Durante uma aula de Ética e Legislação da Comunicação, onde discutíamos sobre as discrepâncias entre a ética grega clássica e a cristã, analisamos e avaliamos os dois modos de ética e suas divergências. Enquanto o professor expunha metodicamente suas ideias e outras tantas que os livros e textos trazem até nós em relação aos pecados, às virtudes e aos vícios que o humano se submete, fiquei me questionando se todos esses pecados que a igreja nos condena, não acabam se voltando contra ela também. Afinal de contas, a igreja antes de tudo, é humana, e todo o humano é falível.
Me preparando para ter esta aula, li um trecho do Livro Décimo das Confissões de Santo Agostinho e fiquei um tanto quanto abismada. Não quero aqui questionar o que uma pessoa escolhe como objetivo de vida, mas acredito que quem conhece este livro, se deparou com um extremismo e fanatismo (não adoração) por Deus. Era uma busca interminável pela perfeição e pela pureza e Agostinho parece ter se esquecido de fazer apenas uma coisa em sua vida: viver. Em contrapartida existem diversos pensamentos dentro deste livro com os quais concordo. Há um trecho que diz que Deus habita em nossa consciência e é nisso que eu particularmente acredito. Não creio em dogmas, leis fixas, sete pecados. Acredito que a felicidade, que o cristianismo de base define como alcançar Deus, esteja na verdade na nossa consciência tranquila quando deitamos a cabeça no travesseiro e conseguimos dormir. Ter que provar o quanto somos puros e santificados para as outras pessoas e não para Deus, porque segundo a bíblia Ele aceita as pessoas do jeito que são e perdoa os pecados se elas se arrependerem, é inviável e inaceitável.
Sempre encarei a bíblia como um código de conduta que foi e ainda é usado para que a sociedade continue civilizada e o mundo habitável. Concordo com os dez mandamentos em sua maioria, mas discordo com boa parte dos sete pecados capitais. Por que a luxúria seria um pecado se as pessoas são dotas de uma alma que sente e um corpo orgânico com necessidades fisiológicas? Fazer sexo, amor, ou seja lá o que for com segurança e com respeito nos torna pecadores por satisfazermos necessidades puramente químicas? Não concordo com isso. A gula seria um pecado capital, ou seja, um pecado merecedor de condenação, se o humano é capaz de cozinhar e criar as maiores delícias a partir de ingredientes simples? O fato de sermos dotados de um paladar apurado que às vezes nos faz querermos mais e mais nos torna pecadores condenáveis? Não ficarei aqui discursando sobre cada um dos pecados, mas quis trazer este pensamento hoje. Deus quer que sejamos felizes aproveitando o que o mundo pode nos oferecer ou que sejamos almas presas a corpos pecadores e dotados de desejos condenáveis? De repente daqui alguns anos eu possa mudar de opinião quanto a isso, porque todo pensamento é mutável, mas por enquanto, é isso que se sobressai: a felicidade versus a santidade.
Na Grécia Antiga, os fundamentos éticos estavam na polis, ou seja, atitudes que traziam o bem-comum. O “agir corretamente” era agir com consciência, responsabilidade, razão, vontade e autodomínio (não através de leis fixas que sempre acabam sendo uma faca de dois gumes). Ser uma pessoa virtuosa não era só ter fé, caridade e esperança como nas leis cristãs, era ser uma pessoa de caráter, que age com prudência e equilíbrio. Para os gregos antigos devia-se agir conforme a natureza, repeitando as necessidades do corpo (inclusive as fisiológicas). Não existia a crença de que a alma prevalecia sobre o corpo como no cristianismo, por que afinal de contas, a alma só ganha experiência aqui na Terra através do corpo. O pensamento sempre foi uma coisa individual, e ninguém nunca conseguiu os ouvir. Se os pensamentos não afetam ninguém além do ser pensante, por que seremos julgados por eles? Sou uma pessoa inquieta que vive questionando tudo, mas neste pensamento de hoje em especial não consigo encontrar alguma impertinência.
Deixo aqui uma dissertação inacabada porque não pretendo fechar o pensamento e sim deixar uma conclusão em aberto para que todos possam pensar sobre. Expus os fatos, concordo que tendenciosamente aos meus pensamentos, mas achei interessante escrever sobre. Um abraço a todos.

6 comentários:

  1. Durante anos a igreja vem ditando o que podemos e o que não podemos fazer, e muitos leigos acreditam fielmente no que outro ser humano está falando, como se aquela pessoa fosse um deus, alguém que saiba de tudo e sobre todos.
    Eu acredito que Deus possa existir, mas acreditar em alguém que está recebendo para ler um livro, ou até falando suas próprias palavras, não me parece muito confiável. Ao meu ver um padre, ou qualquer que seja seu cargo na igreja, deveria estar lá por vontade própria, sem lucro.
    Mas voltando ao assunto, creio que é possível se divertir e ser feliz agindo "corretamente" mas um pouco de sacanagem é necessário na vida...
    Parabéns pelo site, abraço, continue assim.

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  2. Exatamente. Acredito em uma força maior, alguém que através de energias reja o universo, mas não acredito que ser cristão, ser fiel a Deus e ser "puro" é seguir rigorosamente as palavras de um livro ou e uma pessoa que nem me conhece. Acredito que todos temos um propósito nesta vida e que se Deus (ou a força maior) nos colocou aqui é para que aprendêssemos a sermos felizes e respeitarmos o nosso corpo e o corpo do outro, o espaço do outro. Porquê tenho que ficar pagando as penitências que o padre decidiu que eu deveria pagar se a penitência daquilo que erramos e tomamos como errado está diretamente em nossa consciência? Se eu não estou com a consciência tranquila, eu vou tentar melhorar a situação para que fique. E essa seria a melhor providência. Pagar a penitência que a igreja nos 'impõe' só faz com que oremos 4 terços ou sei lá quantos e não conserta aquilo que estragamos. Não refazemos laços, não compensamos as duas partes atingidas. Apenas ficamos com "a consciência tranquila diante de Deus". E quando eu passar na rua pela pessoa a quem fiz mal? A minha consciência ainda estará tranquila?

    Agradeço a participação Augusto!
    Um abraço,
    Vick

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  3. Por nada, sinto-me privilegiado por poder ler seus textos!
    E para constar, concordo com seu ponto.
    Abraço.

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  4. Em primeiro lugar a igreja somos nós, e ninguem tem poder de julgar aqui na terra, apenas Deus. Até porque a biblia deixa bem claro que quem é seguidor de Cristo está livre de ser julgado, já está absolvido de seus pecados, pelo sangue de Cristo e por nosso SINCERO arrependimento. Pois Cristo disse antes de morrer na cruz "está CONSUMADO". a questão é: seguir a Cristo! Mas como? Eis a resposta do próprio: Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me...

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  5. O pensamento cristão é: viver as felicidades do mnundo por uma vida curta ou viver uma felicidade plena, perfeita e eterna na presença de Deus? Paulo disse: Meu viver é Cristo e morrer é lucro!
    Esses pensamentos vao além de nossa razão, além da razão dos martires que dão a vida por Cristo. Leia sobre a igreja perseguida, pois é muita coisa pra escrever aqui. Não procure entender o poder do Espirito Santo, apenas experimente e sinta, muitos mistérios serão revelados. Um conselho: nao corra atras de palavras humanas pra desvendar esses mistérios, voce vai encontrar todas as resposta lendo a Biblia.

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  6. Agradeço a participação Victor! O meu blog não está aqui para que se mostre apenas um dos lados da moeda. Legal tu trazeres o outro lado, no qual acreditas. Continue participando por que aqui todo mundo tem o direito de expor a sua opinião! Um grande abraço!

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